Dessa vez não venho para defender nenhum candidato, mas refletir sobre a postura da classe média brasileira no período eleitoral. A classe média sim, porque essa classe apesar de ter que trabalhar para viver, apesar de ter que acordar cedo para trabalhar, acredita ou finge acreditar que está num patamar no mínimo similar ao burguês e além disso é a maior detentora da hipocrisia nesse país. Gostaria de fazer uma análise disso citando alguns temas que estiveram e ainda estão em alta nesses últimos debates.
Acredito sim ser importante debater temas como o aborto, ora, é um tema social, no entanto devemos nos lembrar que não podemos pautar nossa sociedade com base numa moral religiosa, mesmo sendo o Brasil um país historicamente cristão (o que para mim é o mais claro sinal de um excessivo falso moralismo). Devemos ter olhar crítico de forma a enxergar cada aspecto da realidade social, por exemplo, devemos lembrar que a lei tal como está, faz com que milhares de mulheres Brasil a fora tomem remédios perigosos sem indicação ou venham fazer abortos em clinicas clandestinas, não precisa nem dizer a quantidade de mortes que isso acarreta. Há ainda aquelas meninas que são presas, se a sociedade fosse um pouco mais coerente, não iria presa só a mulher, mas o homem que a engravidou, quem a incentivou a fazer o aborto, quem vendeu o remédio, ou seja todos aqueles que são realmente responsáveis pelo ``crime´´. Quanto à questão religiosa não é difícil compreender os argumentos propostos, o complicado é entender como um grupo onde o papel das mulheres é extremamente restrito, para não dizer nulo quanto a questão hierárquica e onde só há pessoas com poder de decisão do sexo masculino e com média de idade de setenta anos possa decidir sobre como uma mulher deve agir com relação ao seu corpo, quero dizer, ninguém desse meio teoricamente pode engravidar. Veja bem, o que estou defendendo não é a causa do aborto e sim a coerência no debate.
Aliás, será que as pessoas acreditam que mesmo sendo o candidato a favor ele poderia chegar sozinho à chefia do executivo e daí então só por seu gosto legalizar a interrupção da gravidez? Mesmo assim, o debate deveria ser outro, antes de se discutir a liberação do aborto, deveriam ser discutidos temas de importância maior como a reestruturação da educação pública no país ou do sistema hospitalar. Será que essas duas mudanças já não diminuiriam em muito o número de mulheres que são levadas a abortar? Mas isso não é polêmico, isso aliás não vejo nenhum padre, nem pastor, nem carola reivindicando.
Outra discussão que me assusta e nisso sim, se entende a classe média hipócrita e moralista (falsa) é a questão de se chamar a candidata do PT de terrorista e assassina. É impressionante (lembrando que nesse tópico estou apenas comentando alguns fatos sem sair em defesa de nenhum candidato), a mesma classe média que é a favor da manutenção da lei da anistia ou seja do perdão para os torturadores, assassinos que sumiram com tantas pessoas durante a Ditadura Militar é a que atribui tais adjetivos a uma mulher que em sua juventude (19 anos) lutou contra essa forças repressoras e não entregou nenhum de seus companheiros mesmo tendo sido torturada e presa durante três anos. Novamente, e a coerência?
O fato é que além da classe média, toda a sociedade está se utilizando de critérios infundados e sem sentido para escolher o novo chefe do Executivo.
Como já afirmei em tópico anterior, acredito que a política institucional brasileira está totalmente falida, mas existe, e precisamos ter senso crítico para os próximos quatro anos de gestão presidencial.
Não entendi o lance da classe média vivendo utopicamente como burgueses. No caso, seriam pessoas socialmente alienadas, não? Eu acredito que sse tipo de gente está espalhada em várias camadas da sociedade. A propósito, sou a favor da legalização do aborto. Explico o porquê quando você me pagar aquele cerveja que está me devendo, rs.
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